quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

Documentário discute o controle da internet


SÃO PAULO – Enquanto participava de um congresso internacional, a pesquisadora Joana Varon conheceu o blogueiro, programador e ativista egípcio Alaa Abd El-Fattah, e resolveu filmar uma entrevista com ele. “Blogueiros e ativistas usaram a internet para conectar diversos movimentos e foram estas conexões que levaram à revolução”, diz ele no vídeo, referindo-se à Primavera Árabe, movimento que derrubou ditaduras no Oriente Médio em 2011. Quando ela chegou ao Brasil, ficou sabendo que El-Fattah havia sido preso. Pela segunda vez.

O depoimento gravado se tornou uma das entrevistas do documentário colaborativo Freenet?, que questiona os limites da liberdade na rede – e tenta descobrir, afinal, quem é que manda nela. “Essa história é forte porque a gente tem um material que me traz uma responsabilidade, para levar a palavra dele para mais pessoas”, diz Joana.
A pesquisadora, que trabalha no Centro de Tecnologia e Sociedade da FGV-RJ, está percorrendo o mundo em fóruns e encontros para colecionar histórias como a de Alaa Abd El-Fattah. “A ideia é tentar traduzir o debate, que muitas vezes é técnico na parte jurídica ou tecnológica. Nós queremos trazer isso tudo para os usuários comuns de internet”, explica a pesquisadora.
Ela também estará em Dubai para participar da WCIT nesta semana – e é uma das poucas representantes da sociedade civil a ir para o encontro. “É preocupante porque houve propostas que começam a abordar não só a infraestrutura de rede, mas também a camada de conteúdo. Isso não é escopo da UIT”, diz. “É um lugar em que as decisões são feitas apenas pelos Estados.”
Documentário. A ideia é que o público envie vídeos. A plataforma colaborativa que dará origem ao filme será lançada oficialmente no dia 15 de dezembro. São cinco eixos de discussão: acesso, propriedade intelectual, privacidade, liberdade de expressão e neutralidade.
“Falta conscientização sobre esses temas. O Marco Civil da Internet emperrou por causa da neutralidade. Ninguém sabe o que é isso, mas no momento em que não houver mais neutralidade, a internet pode virar uma TV a cabo, em que se compra pacotes. Nós queremos traduzir essa questão”, diz Joana.
O site está em três idiomas e o filme será internacional. O foco, porém, será nas economias emergentes, que precisam assumir uma postura firme em relação à temas sensíveis.
“Há países piores em termos de acesso e qualidade que precisam fazer uma maratona dupla para assegurar o acesso e também tratar de temas como complexos como privacidade e neutralidade, que demandariam mais gente conectada para que fossem tratados adequadamente”, diz Joana. “Mas, se esses temas não forem discutidos agora, pode acontecer que nem foi com o regime de propriedade intelectual, em que os países desenvolvidos estabelecem padrões e a gente vai ter de seguir depois, sem pensar na realidade dos países em desenvolvimento.”
A diretora do documentário não terá poder de voto na reunião da UIT em Dubai, e também não sabe qual será o tamanho da abertura da delegação brasileira em relação às propostas da sociedade. Mas, na volta, ela certamente trará boas histórias para seu projeto. / T.M.D.

Fonte: Blog Estadão

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